segunda-feira, 2 de março de 2009

Sobre o aprendizado da execução musical

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"Não surpreende, portanto, que pareça ter sido escrito muito mais sobre performance musical de um ponto de vista histórico do que de qualquer outro. Os músicos que trabalham segundo a tradição "viva" não necessitam escrever - ou falar - sobre música; eles são os executores, não os faladores, e assim é preciso dizer que eles têm todo o direito de encarar a musicologia, a teoria ou qualquer outra espécie de intelecção sobre música com certo desprendimento. (Esse despreendimento pode situar-se em algum outro lugar, entre a curiosidade diletante moderada e a mais declarada zombaria.) Uma tradição musical não mantém sua "vida" ou continuidade por meio de livros e sabedoria livresca. Ela é transmitida em lições privadas, não tanto por palavras quanto pela linguagem corporal, e não tanto pelo preceito quanto pelo exemplo. Só excepcionalmente esse processo é divulgado numa arena semi-pública, usualmente numa forma não muito satisfatória, em classes onde curiosos e ouvintes se esforçam por captar alguma coisa da comunicação entre mestre e aluno. O esotérico sistema sinal-gesto-resmungo, pelo qual os profissionais se comunicam a respeito da interpretação nos ensaios, é ainda menos redutível a palavras ou textos. Portanto, não é que exista qualquer falta de pensamento acerca da peformance por parte dos músicos na tradição central. Na verdade, ele existe e é abundante mas não é a espécie de pensamento que seja facilmente articulado em palavras."

KERMAN, Joseph. Musicologia. São Paulo: Martins Fontes, 1987. p. 275-276.

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