domingo, 31 de agosto de 2008

Ouvidos maricas

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Quanto à música tradicional, tudo indica que Ives pouco apreciava além da sua própria e de alguns outros norte-americanos não menos independentes com os quais só entraria em contato depois de praticamente deixar de compor, em 1918. Ele considerava Beethoven "um grande homem - mas que pena que não tivesse pelo menos um belo acorde independente de qualquer tonalidade". Para Ives, a música fora emasculada pela necessidade de agradar seu público; era preciso oferecer um alimento mais sólido aos ouvidos e ao espírito: ritmos complexos, texturas complicadas e acima de tudo acordes dissonantes. Sua reação às vaias durante a execução de uma obra de seu amigo Carl Ruggles é típica: "Seus maricas de uma figa", vociferou, "quando ouvirem música forte e máscula como esta, levantem-se e usem seus ouvidos como homens!"

GRIFFITHS, Paul. A música moderna. Uma história concisa e ilustrada de Debussy a Boulez. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. p. 50-51.

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