terça-feira, 25 de março de 2008

Os jesuítas e a música na América Portuguesa - III

O panorama da música feita em paralelo às atividades missionárias jesuíticas na América Portuguesa é muito difícil, especialmente por não existirem documentos musicais – não sobreviveram partituras do período. É por isso que Holler só pode conjecturar a partir de informações secundárias – os instrumentos utilizados, as ocasiões e o tipo de música que era feita.

Tentando fazer uma síntese das informações trazidas pelo autor, podemos dizer que os instrumentos utilizados eram principalmente flautas, charamelas (instrumentos de sopro de madeira ou metal em famílias de várias vozes, incluindo oboé e sacabuxa), gaitas (de foles), violas (parentes do violão moderno), e órgão. Em geral os instrumentos eram usados para dar sustento harmônico às vozes cantadas. Estas eram ou usadas em cantochão (canto gregoriano) ou em “canto de órgão” (canto em vozes, silábico e homofônico). As ocasiões em que se fazia música nos estabelecimentos jesuíticos eram especialmente os ofícios de vésperas, as procissões e ladainhas, os funerais e as missas cantadas (em dias especiais do calendário litúrgico). Havia ainda muitas ocasiões profanas para o uso da música. Representações teatrais - como autos, diálogos, comédias e tragédias, cerimônias de formatura nos colégios (láureas), e também “recebimentos” cerimônias indígenas de saudação à chegada de visitantes – costume mantido pelos jesuítas.

No final do trabalho o autor faz uma comparação com as missões jesuítas espanholas no Paraguai, explicando porque a atividade musical ali foi muito maior na América Portuguesa. Não sei porque o autor não comentou também sobre as missões da região de Chiquitos, no chaco boliviano, onde houve também atividade musical muito intensa e documentos que sobreviveram até nossos dias. As razões fornecidas pelo autor são principalmente duas: o maior isolamento das missões espanholas e o maior número de músicos formados entre os padres que compuseram tais missões. No Paraguai, os jesuítas construíram os aldeamentos o mais longe possível dos colonos brancos. Isso foi feito para proteger os índios, mas permitiu também um maior desenvolvimento do trabalho de catequização e os correlatos trabalhos de educação e de música. No Brasil, por causa da proximidade com centro urbanos, os índios eram sempre requisitados a deixar os aldeamentos para executar serviços diversos.

Este isolamento das missões espanholas também favoreceu a sobrevivência dos documentos. Na América Portuguesa à expulsão dos jesuítas em 1759 seguiu-se a destruição de seus documentos. Somente sobreviveram os que tinham sido enviados à Europa. Já nas missões espanholas, a dificuldade de acesso fez com que as partituras ficassem na mão dos índios após a expulsão dos jesuítas espanhóis em 1767. Foi o fato de terem ficado em mãos indígenas que permitiu aos documentos sobreviverem até hoje.

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